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Matheus Marchetti fala sobre 'O Bosque dos Sonâmbulos'


O musical 'O Bosque dos Sonâmbulos' retorna aos palcos paulistas para uma nova temporada, em um novo formato, com estreia prevista para essa quarta, dia 06, no Teatro Viradalata. Conversamos com o diretor do espetáculo, Matheus Marchetti, para saber um pouco mais do que podemos esperar dessa nova montagem. Confira: Você pode contar pra gente um pouco da sua trajetória como diretor?


Minha primeira paixão foi o cinema - que acabou sendo o foco principal dos meus estudos, da minha formação acadêmica - mas sempre fui igualmente apaixonado pelo teatro... tanto que o teatro influenciou demais no meu trabalho cinematográfico, e vice-versa. Muitos dos meus filmes são inspirados em peças, e minhas peças em filmes. Quando estava na faculdade me formando em cinema, meu estágio não foi numa produtora audiovisual, mas sim com o Jorge Takla montando My Fair Lady... e foi a maior escola que eu já tive!

Acho que tudo começou quando vi O Fantasma da Ópera na Broadway, aos 7 anos, e decidi que precisava fazer um filme daquilo... é um sonho impossível que persiste até hoje (quem sabe um dia?). Essa experiência foi muito formativa para definir o meu estilo, já que no Fantasma você tem esse conto de horror gótico (apesar de ser mais reconhecido como um romance ou melodrama, suas raízes vem de algo mais sombrio) contado através de canções, a combinação das minhas duas coisas favoritas. É um elemento em comum em todos os meus curtas, o elemento da música (mesmo que nem sempre num formato musical, tradicionalmente) e do terror, e sempre contado por um viés queer. Tudo isso culminou no longa Verão Fantasma, que lançamos ano passado, trazendo nomes do nosso teatro musical como Beto Sargentelli e João Felipe Saldanha, além do Bruno Germano que também protagoniza o Bosque, numa história de assombrações marítimas e paixões juvenis.


No momento, o Verão tá circulando por festivais mundo afora, e ainda estou finalizando meu último filme - um projeto experimental inspirado nos contos do Edgar Allan Poe - mas o foco agora está menos nas telas, e mais em explorar essa mesma linguagem no teatro, expandir essas possibilidades.


Como surgiu ‘O Bosque dos Sonâmbulos’?


O Bosque surgiu de um diário de sonhos que eu tinha na minha adolescência... surgiu especificamente dos sonhos e pesadelos que eu tive na época que eu tava assumindo minha sexualidade para minha família. Eu criei uma história "conectando os pontos" entre os sonhos vendo as semelhanças entre eles e tecendo uma linha narrativa.

Eu comecei a escrever o roteiro de fato no primeiro ano da faculdade, e fui crescendo com ele, tendo outros sonhos e ideias no meio tempo. O projeto foi moldando e mudando, até que eventualmente juntei forças com o Vitor Bispo - que agora está tendo uma carreira maravilhosa como barítono na Europa, mas que eu conheci como Jean Valjean numa montagem estudantil de Les Misérables. Naquela época, estávamos montando uma adaptação do musical Tanz der Vampire - eu estava louco para ter meu próprio musical de vampiros, e ele estava com muita vontade de escrever um musical autoral, então o Bosque caiu que nem uma luva.


Por fim, escrevemos o projeto como um roteiro de longa-metragem, mas pela minha falta de experiência na época, achamos melhor fazer como um curta-metragem, que acabou sendo meu TCC. O curta foi um sucesso de público e crítica, mas a ideia do longa parecia muito distante, até pela dificuldade de se financiar um projeto desses.


Foi então que começamos a pensar que talvez o melhor formato para contar a "história completa" do Bosque fosse no teatro, em vez de no cinema... e aí fomos repensando novamente a história nesses últimos 7 anos, para outra linguagem, para outro público, para outras perspectivas, e agora cá estamos. A equipe criativa mudou um pouco de lá pra lá, mas ainda estou aqui com nossa produtora Isabella Melo, e com o Tony Germano que novamente reprisa seu papel do filme, mantendo nossas raízes intactas.


‘O Bosque dos Sonâmbulos’ é um espetáculo diferente de tudo que a gente já viu no Brasil. Você pode contar um pouco sobre o que é esse espetáculo, para quem não conhece?


O Bosque dos Sonâmbulos é uma mistura de diferentes tons e gêneros, histórias dentro de histórias, tal como um sonho que vira pesadelo e vice-versa. Essencialmente, é um conto-de-fadas macabro sobre dois irmãos adolescentes, Thomas e Oliver, passando as férias num antigo hotel nas montanhas.


Uma noite, uma misteriosa companhia de ópera vem se apresentar no hotel, despertando os desejos secretos dos outros hóspedes. Thomas se apaixona por um belo artista da companhia, o jovem Roman. Oliver, por outro lado, acredita que eles são vampiros disfarçados - como nas histórias que seu irmão inventa para lhe assustar.

Quando Thomas foge no calar da noite para se encontrar com Roman, Oliver parte numa jornada bosque adentro para salvar sua família antes que seja tarde demais.


Quais foram suas principais inspirações na criação dessa obra?


Acho que a grande inspiração para o Bosque é o cinema de terror gótico dos anos 60-70, que se caracterizava pela estética hiper-estilizada, as cenas brilhando com cores-vibrantes como se fossem ilustrações de um conto-de-fadas, deliciosos como uma caixa de bombons recheados de sangue. Pensei em filmes como o brasileiro As Filhas do Fogo de Walter Hugo Khouri, Alucarda de José López Moctezuma, Rosas de Sangue de Roger Vadim, o Valerie e Sua Semana de Maravilhas de Jaromil Jires, a filmografia do Jean Rollin... são todos fábulas sobre o despertar sexual feminino, muitas vezes com protagonistas lésbicas se descobrindo com uma bela criatura da noite. Nossa ideia era subverter essa linha narrativa, usando os mesmos tropos mas trocando o gênero dos personagens - uma fantasia sobre dois meninos tendo sua iniciação sexual sob a influência de forças sobrenaturais, além do bem e do mal.

Saindo um pouco do cinema, acho que tem muito do Matthew Bourne também nesse sentido - um diretor/coreógrafo britânico que adapta os balés clássicos em versões contemporâneas, subversivas, e homoeróticas. A gente tá trabalhando nessa mesma chave, repensando e brincando com temas de contos-de-fadas e filmes de terror, sempre por um olhar queer. Pode-se dizer também que é uma fusão sangrenta e fantasmagórica de Into the Woods com Despertar da Primavera - ou um Sonhos de uma Noite de Verão vampírico.


Quais foram os maiores desafios de adaptar essa obra para a linguagem dos palcos?


O principal para mim era traduzir essa linguagem de sonhos, de "sono acordado", para uma experiência ao vivo. No teatro a gente perde a divisão das cenas em quadros, mas ao perder essa moldura, cria-se uma nova camada de ambiguidade em que os limites das cenas não existem, as cenas se fundem uma na outra literalmente, fantasia e realidade se mesclam de uma forma mais direta. Também era importante colocar o público perto da ação, como hóspedes desse hotel, como participantes desse sonho coletivo.

O filme já bebia muito de uma "estética teatral", então a princípio essa mudança não seria tão complicada, mas aproveitamos o fato de que haveriam mudanças para realmente repensar a história quase do zero. Não queria simplesmente recriar o que fiz no curta, mas expandir e repensar, reconfigurar. Entender o que essa outra linguagem poderia trazer de novo que fizesse o Bosque crescer dramaturgicamente, musicalmente, cenicamente.


O que o público pode esperar de novidade nessa temporada do musical?


A essência narrativa do Bosque se mantém nessa nova versão, mas da mesma forma que nossa primeira encenação era muito diferente do curta, a desse ano também vai ser muito diferente da anterior. Ano passado foi nossa primeira tentativa de explorar esse texto em outro formato, e foi mais um laboratório para entender o que funcionava e o que não funcionava. Para 2023, mantemos o aspecto mais intimista num formato arena, mas num local maior - o espaço cabaré do Teatro Viradalata, reconfigurado como o saguão do hotel onde se passa a história. Agora temos uma nova equipe criativa - o Guilherme Gila, um dos maiores talentos da cena musical brasileira, como diretor musical; e a Ana Paula Trevisan como coreógrafa - que interpretam o texto de uma forma única. São novas coreografias, novos arranjos, e até novas músicas. O som desse Bosque é outro - até porque agora estamos trabalhando com música ao vivo em vez de playbacks, e as músicas foram completamente rearranjadas para piano, violão, guitarra e violoncelo. Musicalmente vai ser uma experiência completamente diferente, com outras texturas... algo menos bombástico, mas mais potente. Temos também a alternância nos dois papéis principais - Bruno Germano e Giuliano Garutti como Thomas; Andy Cruz e Lucas Bocalon como Oliver - que proporcionam diferentes perspectivas e camadas da mesma história. ----


Para quem se interessou, o espetáculo fica em cartaz de terças à quintas, no Teatro Viradalata, em São Paulo. Até dia 12 de outubro. Ingressos através do Sympla ou da bilheteria do teatro.



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