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Entrevista com Victoria Ariante



A diretora e atriz Victória Ariante dirige o novo espetáculo musical autoral de Vitor Rocha: "Donatello", em cartaz em curtíssima temporada no Teatro Commune, em São Paulo, na Consolação.

Com um extenso currículo no Teatro Musical, Victoria é Bacharel em artes cênicas pela Escola Superior de Artes Celia Helena, e formada em teatro musical na 4Act Performing Arts com especialização em Nova York e também é bailarina clássica pela Royal Academy of Dance.

Batemos um papo com ela para saber mais sobre o trabalho como diretora e quais as novidades para o segundo semestre.


1 - Vic, você é mulher, e muito jovem. Como tem sido a construção da sua carreira como diretora?

Dirigir nunca foi um pensamento enquanto estudava. Fiz graduação em artes cênicas e sempre com o desejo de atuar. Acho que muito também porque foi com o que tive contato ao longo dos meus estudos, sem pensar muito na possibilidade de estar “do outro lado”. Conheci algumas diretoras mulheres na época da faculdade, mas poucas, e sempre com exemplos muito distantes. Depois de um convite inusitado do Vitor, com “Se Essa Lua Fosse Minha”, entendi, na prática, um pouco do que isso significava e, mais do que isso, que me sentia plena exercendo a função e muito, muito realizada, com aquela sensação de “eu estou onde eu gostaria de estar”. Embora tivéssemos vivido algo semelhante em “Cargas D’Água”, no Lua eu pude compreender melhor as responsabilidades e, mais do que isso, como colocar meu pensamento artístico, meu senso estético e minhas escolhas de criação na condução de um espetáculo. Então, depois dessas experiências, minha construção tem sido essa: ir atrás de outras referências, estudar processos de direção e, principalmente, encontrar outras diretoras e diretores com quem posso trocar e aprender.


2 - Recentemente, você exerceu a função de direção/coreógrafa residente em musicais como “Grease”, “O Guarda Costas” e mais recentemente, “Petshop, O Musicão”. Como é esse processo da manutenção de um espetáculo durante a temporada?

Eu costumo dizer que fazer “residência" é um aprendizado constante e muito conduzido a partir de alguns fatores: a obra em si, a produção do espetáculo, o elenco e equipe que se formam, o tempo de temporada e por aí vai. Porque, apesar da função ter como principal premissa manter o espetáculo com a qualidade e a excelência com que foi concebido, ele se transforma ao longo dos dias: o elenco e equipe ganham mais confiança, encontram tempos de textos e piadas que só se dão com o encontro com o público, acontecem substituições inesperadas, equipamentos que falham no meio de uma sessão e muitas outras situações. Então, o alinhamento da equipe, para que todos contem a mesma história; as notas diárias para manter a narrativa e as demandas técnicas; os ensaios de manutenção para rever possíveis exigências que se perderam são fundamentais. Mas para além de tudo isso, a coreografia/direção residente pede escuta aberta ao que está acontecendo diariamente. É preciso também abrir espaço para o que se descobre no decorrer da temporada, mas ainda assim, mantendo a criação da equipe que costurou tudo até ali.


3 - Em “Donatello” mais uma vez temos você dirigindo uma obra de autoria de Vitor Rocha e Elton Towersey. Vocês inclusive já montaram um espetáculo que rendeu muitos prêmios: Como tem sido essa parceria de vocês?

Somos muito amigos. Acho que, de certa maneira, nossas vidas pessoais e profissionais se misturam. Isso nos dá intimidade suficiente para ter diálogos abertos para entender como cada um pensa e expor o que achamos que pode ou não funcionar. Mas acima disso, temos muito respeito um pelo trabalho do outro. Eu admiro muito o Elton e o Vitor, sei o quanto ambos entendem o que estão se propondo a fazer. Ouvimos com atenção o que o outro sente ser importante dentro da sua “área”, mas também sabemos que estamos construindo obras originais, o que significa criar algo que se modifica do papel para a sala de ensaio, da sala de ensaio para o palco e após cada nova temporada. É claro que, não concordamos com tudo em todos os momentos, mas essas discussões, geralmente, nos fazem sair do lugar e avançar, então também são muito importantes para nossos processos artísticos.


4 - “Donatello” fala de algo delicado para muito de nós, qual a sua maior preocupação nesta história como diretora?

“Donatello" foi concebido com muita sensibilidade e delicadeza por todos os envolvidos na equipe. Desde nossos primeiros encontros, já sentimos que seria algo muito íntimo: nós nos emocionávamos com as primeiras leituras, depois com a criação das cenas, a passagem das músicas. Minha maior preocupação era entender como transitar entre os opostos: a poesia e o cotidiano, a dor e a delícia, o riso e a lágrima porque, apesar de ser um monólogo que começa com o narrador apresentando sua infância vivenciando aquilo - e, portanto, ainda sem a compreensão absoluta de um adulto para absorver a densidade das crises de alzheimer do avô - tem também a memória de como aquelas situações foram moldando a si mesmo, então precisamos, ao longo do processo e com o trabalho fundamental da Leticia, nossa preparadora, encontrar esse crescimento do personagem na própria narrativa, em 90 minutos, bem como transitar entre as experiências boas e ruins que acontecem com ele nesse espaço/tempo - assim como nossa própria vida.


5 - Uma particularidade de “Donatello” está no fato de ser um Monólogo musical. Quais os desafios de dirigir esse tipo de obra quando se comparado a um espetáculo com o um elenco maior?

Um monólogo, por si só, traz alguns desafios: manter a atenção do espectador em apenas uma figura no palco, ajustar o ritmo do ator para conduzir toda a narrativa e, principalmente, colocar em cena todos os outros personagens que dialogam com ele, ainda que não estejam ali fisicamente. O fator “musical” possibilita que as músicas auxiliem nessa variação de temperaturas, de ritmo, mas ainda assim, toda a construção cênica e coreográfica fica centralizada. Em “Donatello”, optei por fazer do pianista o que chamamos de “suporte cênico”, fazendo com que o personagem do Vitor ganhasse um interlocutor para contracenar com ele em alguns momentos, modificar a dinâmica da cena em outros e até mesmo auxiliar na mudança de objetos e cenários.


6 - Para você, como diretora, o que um ator precisa ter e ser no palco?

Tenho tido a sorte de trabalhar com atrizes e atores muito disponíveis. E quando digo disponíveis não digo somente abertos para minhas ideias, mas também artistas que criam junto comigo e que potencializam alguma proposta, fazendo com que fique muito mais verossímil, afinal, quem estará dando corpo à criação, são eles. Também sinto que muito do teatro é tentativa e erro, experimentação, dar vida à ideia e entender se aquilo de fato pode ou não funcionar. Então, ter pessoas que embarcam em minhas proposições tem sido também importante: às vezes, pode não dar certo, e o erro se torna uma ideia infinitamente melhor. Um exemplo disso foi a cena em que o Arthur Berges declama Ismália, em Se Essa Lua Fosse Minha: eu propus algo, ele fez. Então ele me disse: posso tenta fazer de um jeito que pensei? Minha ideia foi ressignificada por ele e ficou muito mais bonito. Para além disso, escuta aberta, olhos atentos para o restante do elenco, disciplina consigo e com o trabalho e estudo de casa também são mais que necessários, dando confiança para o processo como um todo e se fazendo muito mais presente no jogo de cena.


7 - Conta pra gente o que vem por aí neste segundo semestre com a sua assinatura.

Para o segundo semestre, queremos que Donatello siga desbravando outros palcos. Tem também um filme musical que coreografei, chamado “Nessa Data Querida”, roteirizado pelo Vitor Rocha e dirigido pelo André Leão, que terminamos de gravar semana passada e “Voz de Vó”, espetáculo que fiz direção de movimento e preparação corporal, e que foi dirigido por Sara Antunes com supervisão de Vera Holtz, que cumprirá temporada em breve no Rio de Janeiro. Além disso, tenho alguns desejos: um projeto audiovisual que devo iniciar a pré-produção ainda este ano, e um espetáculo musicado para crianças.


Serviço:

“Donatello”

Curtíssima temporada

Local: Teatro Commune - Rua da Consolação, 1218 - Consolação - São Paulo

Quartas e quintas às 20h30

Ingressos: R$50,00 (meia) e R$100,00 (inteira)

Duração: 80min

Gênero: Musical

Classificação: Livre

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