Recentemente Thiago Marinho e Lucas Drummond divulgaram nas redes sociais as chamadas para audições de seu mais novo projeto: O Pescador e a Estrela. Escrito pela dupla, a peça contará também com direção de Karen Acioly e conta a história de Fabiandro, um jovem pescador deficiente visual. Morador da cidade de Aurélia, Fabiandro é melhor amigo de uma estrela. Os dois passam noite após noite conversando, rindo e se divertindo juntos. Um dia, porém, a estrela desaparece do céu. Ninguém acredita na amizade de Fabiandro com a estrela, tampouco que ele seja capaz de ir até o céu para procurá-la. A única pessoa que lhe dá ouvidos é a menina Hortênsia, que se junta a ele para começar a sua busca. Durante a viagem, aprendem muitas coisas sobre suas limitações, sobre suas capacidades e um sobre o outro.
Para saber um pouco mais sobre o processo de crianção e idealização, conversamos com eles em uma entrevista super legal, que vocês conferem agora:
1. Como surgiu a ideia de um projeto voltado aos deficientes visuais? Como vocês veem esse tipo de inclusão, tanto para os artistas quanto para o público? Em 2013, o Thiago compôs uma música que falava do amor entre um pescador e uma estrela. Ele me mostrou essa música e eu, Lucas, imediatamente disse: “Essa história dá uma peça”. Fizemos um escopo da história e mostramos para o Bruno Mariozz, nosso sócio e produtor da Nossa! Cia. de Atores. Aí o Bruno, que tem se destacado no mercado principalmente pelo trabalho com espetáculos voltados para toda a família, sugeriu: “E se ele fosse apaixonado pela estrela sem nunca tê-la visto?”
A ideia de que o amor não precisa ser visto para ser sentido, deixou a gente apaixonado. E foi a partir daí, que decidimos ter um personagem deficiente visual. A deficiência visual do nosso pescador criou uma metáfora perfeita para passar a mensagem que queremos com o espetáculo: a de que o amor é um sentimento universal, independente de idade, cultura, crenças, e principalmente, de enxergarmos ou não. Com isso, surgiu o desejo de construirmos um projeto inclusivo, acessível a todos os públicos e que traduzisse, na encenação, essa acessibilidade. Mas como cada um pode “sentir” esse espetáculo? Como podemos ir além dos recursos já conhecidos de acessibilidade para proporcionar uma experiência teatral que não só agrega o deficiente, mas é pensada para ele também? Esse é o grande desafio. E se o objetivo é criar um espetáculo que contemple todos os públicos, precisamos ter essa diversidade também na equipe criativa. Precisamos fomentar a acessibilidade para o público, mas também para os artistas. Esse projeto não poderia existir sem o compromisso com a acessibilidade e com a empregabilidade da pessoa com deficiência.
O Thiago já tinha trabalhado em um projeto da cia. “Os Inclusos e os Sisos”, onde conheceu a Moira Braga, coreógrafa, atriz, professora, bailarina e deficiente visual. Convidamos a Moira, então, para ser a diretora de movimento do musical e ela nos mostrou que existem pessoas talentosíssimas, mas com menos oportunidades por conta da sua deficiência. O Brasil profissionaliza poucos deficientes. E o público precisa e merece conhecer essa diversidade de artistas. E nós temos a responsabilidade de tornar o nosso mercado não só inclusivo, mas principalmente igualitário.
2. Como foi o processo de construção do texto? Vocês podem nos adiantar um pouquinho sobre o que fala a história?
“O Pescador e a Estrela” conta a história de Fabiandro, um pescador deficiente visual, cuja melhor amiga é uma estrela. Um dia, porém, essa estrela desaparece do céu e Fabiandro parte em uma jornada em busca da sua amiga. As experiências que ele vive nessa aventura transformam o nosso herói, ensinando-o muitas coisas sobre ele próprio e sobre o mundo.
O processo de construção do texto está sendo muito desafiador. Está sendo, porque desde que começamos a escrevê-lo, ele já passou por muitas modificações e não temos dúvidas que novas mudanças virão até a estreia. A ideia de construir uma peça que seja não só visual, mas também sensorial, trouxe a necessidade de transpormos essa proposta cênica também para o texto. Além disso, o fato de termos um protagonista deficiente visual exigiu de nós muita pesquisa e a assessoria da Moira Braga nesse aspecto têm sido fundamental. Um dos maiores desafios, por exemplo, foi entender como incorporar a descrição ao texto, sem parecer que estamos apenas narrando o que está acontecendo. Ou ainda, o que de fato é necessário ser descrito? Será que não é legal deixar que cada espectador imagine alguns elementos da história e construa-os na sua cabeça? Se só dissermos que Fabiandro e a estrela se encontravam todas as noites em uma praia, sem dar detalhes sobre ela, mas ambientando esse cenário sensorialmente, cada um poderá criar essa praia na sua mente, seja visualmente, ou sentindo o cheiro do mar, lembrando do calor da areia nos pés, ouvindo o barulho das ondas, enriquecendo a experiência teatral de cada um.
3. O que vocês esperam do processo de ensaios? Acreditam que será muito desafiador?
Certamente será um processo muito diferente do que estamos acostumados. Desafiador e extremamente enriquecedor não só para o elenco, mas também todos os membros da equipe técnica e criativa. O objetivo de produzir um espetáculo que resulte em uma experiência totalmente inclusiva vai requerer que todos os membros da equipe criativa (direção, direção de movimento, direção musical, cenografia, figurino, iluminação etc.) transponham esse desafio para os seus campos de trabalho. Como incluir linguagem de sinais na estética da peça? Como apontar referências visuais sem ser somente descritivo? Teremos que descobrir maneiras de fazer com que a nossa história chegue para todos os públicos, sem deixar de individualizar a experiência de cada um.
4. A Karen Acioly, que será a responsável pela direção do espetáculo, traz em seu currículo espetáculos infanto-juvenis. Como se deu a parceria com ela?
Sempre fomos grandes fãs do trabalho da Karen. Fora o currículo dela que é de deixar qualquer um babando, a Karen entende muito de teatro para criança e é uma pessoa extremamente sensível. Por isso, achamos que ela seria perfeita para dirigir este projeto. Desde que fizemos o convite a ela, ela se mostrou extremamente parceira, mas ao mesmo tempo super exigente. Trouxe uma série de questionamentos que só engrandeceram o espetáculo e a nossa história. Assim como nós, ela também está super animada com o projeto e ansiosa para começarmos os ensaios. Todo dia aparece com referências novas e ideias que nos deixam muito empolgados. Que seja logo!
5. Com a atual situação da cultura, no cenário da pandemia de COVID-19, como é dar os primeiros passos para trazer uma nova produção aos palcos?
Ninguém sabe como vai ser o cenário daqui para frente, principalmente para a cultura. Mesmo quando os teatros e cinemas forem reabertos, é provável que o público frequentador seja bem menor, afinal, todos (ou quase todos) estão muito temerosos com a disseminação do vírus. Ao mesmo tempo, esse break imposto é uma oportunidade de repensarmos (com tempo) como a gente vai fazer daqui pra frente e começarmos, com calma, a nossa pré produção. Temos feito reuniões com a direção, a cenografia, a produção e a programação visual para pensar possibilidades criativas para fazer um espetáculo com todas as precauções necessárias nesses tempos. Esse passo precisa ser dado. Sabemos das dificuldades e sabemos que seremos os últimos a voltar à “normalidade”, mas podemos usar esse tempo a nosso favor e criar novas possibilidades de encontro com o público.
O material completo para as audições (currículo e foto) deve ser enviado até 07 de junho, para o e-mail audicao@palavraz.com.br.
A Palavra Z Produções Culturais procura atores/cantores homens, maiores de 18 anos, com deficiência visual para o espetáculo.