Foto: Stephan Solon
Nay Fernandes é atriz, cantora e bailaria e atualmente vive a personagem Paçoquinha, no espetáculo "Chaves - Um Tributo Musical". Sucesso de público e crítica em 2019, a peça retornou aos palcos de São Paulo para uma segunda (e curta) temporada. O Backstage Musical bateu um papo com a talentosa artista, para saber mais sobre esse incrível trabalho.
1. Como você se envolveu com o mundo das artes? Conta pra gente um pouquinho da sua história.
Eu comecei a dançar ballet quando tinha 5 anos. Na época eu tinha uma porcentagem de bolsa numa escola particular bastante conceituada, mas infelizmente não tinha muito como minha mãe pagar uma atividade extra curricular, então sabendo disso e querendo muuito fazer aquilo que as meninas faziam (eu as via se trocando pra irem pro ballet), eu disse pra “tia” assistente que levava as meninas que eu estava também matriculada, mas que não tinha roupinha ainda. Ela acabou me levando junto com as demais pra conferir na lista da própria professora de ballet e eu não estava, mas acho que minha atitude e provável carinha de choro fizeram com que a professora me deixasse fazer aula e depois ela conversou com a minha mãe pra que ela me mantivesse no ballet. Durou pouco, a escola era muito cara e eu e meu irmão tivemos que sair ... mas foi meu primeiro contato, foi quando a arte me escolheu.
2. Em sua carreira artística, você já integrou o elenco de muitos musicais. O que "Chaves - Um Tributo Musical" traz de novo pra você?
Chaves trouxe muuuita coisa nova. O processo foi completamente diferente de tudo que eu já tinha feito antes. O universo do palhaço é mágico, potente e ao mesmo tempo extremamente sensível e nos expõe a tudo, dor, riso, choro, medo... isso tudo torna Chaves um presente que jamais vou esquecer, pois me apresentou a mim mesma, a minha essência e a minha palhaça.
3. Em relação a obra, você era fã antes da peça? Como foi passar a fazer parte desse universo que está presente na vida dos fãs brasileiros há tantos anos?
Eu sempre amei Chaves, assisti muuito quando novinha, preparando almoço pro meu irmão... nós ficávamos mto tempo só nós dois porque a mamãe trabalhava o dia todo, a tv ficava ligada e normalmente no Chaves.
Quando anunciaram as audições a primeira pergunta que me veio foi: “mas como é que vão fazer isso?”. Mas quando olhei a equipe criativa eu não tive dúvida de que bom ia ficar, só não imaginava quanto ou como rs.
Eu fiz as audições sem muita pretenção, porque nunca havia trabalhado com eles e também não me achava “perfil” de nenhum dos personagens da Vila mais famosa do mundo... bom, eis que lá estou e com a personagem que mais me marcou definitivamente.
4. A Paçoquinha e os Palhaços do Céu são personagens totalmente novos, criados por Fernanda Maia no texto do musical. Qual era a sua expectativa antes do espetáculo estrear, em relação ao contato do público com esses personagens inéditos? E, hoje em dia, como você vê esse contato?
Quando começamos o processo eles também não existiam ainda no texto. Pelo o que soubemos a Fernanda nos presenteou escrevendo seus personagens pra gente... isso é muuito especial. Durante os ensaios a gente teve bastaante receio, porque afinal a peça começa no nosso “Palhacéu” e o Chaves aparece um bocado depois. Pensamos inúmeras coisas do tipo: “vão reclamar que não é o Chaves” ou “não vão curtir os palhaços”... mas pra nossa surpresa, fomos extremamente bem recebidos pelo público adulto e infantil. Os palhaços tornam a história mais do que especial e trazem um resgate a nossa essência e arte, acessam os corações das pessoas de maneira linda e todos vem nos dizer isso. É mesmo mágico.
Foto: Stephan Solon
5. Como foi o processo de construção da sua personagem? Tem alguma curiosidade legal sobre ela que você possa nos contar?
A Paçoquinha veio através de muuita pesquisa, muito estudo, muitos exercícios guiados genialmente pela nossa preparadora Ines Aranha junto do Zé Henrique e do Gabriel Malo. Eles nos inseriram lindamente nesse universo. Mas é louco como a personagem veio MESMO em uma junção de todos esses estudos, um trouxe o corpo, outro trouxe a criança, outro trouxe a coisa de ela ser afobadinha e falar o tempo todo... o processo foi tão intenso que em casa eu ficava falando sozinha no banho das maneiras mais absurdas que vocês podem imaginar ahahhahahahah.
6. Você também é cover de Dona Clotilde, como é o desafio de representar personagens totalmente opostas, sendo uma idosa e uma criança?
Pois é! Sou Cover da dona Clotilde e da dona Florinda também, mas só interpretei a Clotilde. Quando eu soube que ia ser cover da Andrezza Massei (ao meu ver um dos ícones do Teatro Musical brasileiro) eu fiquei beeem nervosa ahahahha, ela é maravilhosa. Foquei em tentar absorver tudo o que podia e aprender vendo o processo dela também. Quando me disseram que viveria as duas num mesmo espetáculo o que mais me deixou tensa confesso que foi o “backstage”, porque as trocas são consideravelmente rápidas e claro, uma criança e uma velha! Mas a Paçoquinha já tava tão “em mim” que eu foquei mais em tentar trazer a Clotilde pra esse corpo muuito mais jovem que o dela - a voz então nem se fala - por isso quando faço as duas, busco justamente a oposição dos estilos, dos corpos, das vozes, mas elas tem algo que as aproxima também, uns ”tiques”, umas ”caricatices”, enfim, na 5ª vez que fiz é que fui me divertir ahahahha.
Foto: Stephan Solon
7. Como é o clima nos bastidores? Teve algum momento que você considere o mais marcante?
Eu brinco que o que mais deu saudade nesse intervalo que tivemos entre as duas temporadas paulistanas foram os bastidores. Não sei se por sermos palhaços em cena, a gente não consegue não ser fora também ahahahha. Claro que o elenco tooodo é uma delícia, mas o elenco dos palhaços se conectou muito por causa das pesquisas juntos e a gente quando ”liga”, não “desliga” mais. Sou fã deles e de todo esse elenco de artistas monstros.
Eu considero marcante um episódio que aconteceu no final da primeira temporada paulistana, quando ainda não sabíamos se realmente voltaríamos com o espetáculo eu encomendei bonequinhos de cada palhacinho com uma artista linda - A Juliana do @bunecorosa - e deixei cada um na sua devida bancada para que jamais nos esqueçamos desses personagens. A Vila tem muitas coisinhas deles, mas da gente não tinha nada. Pois bem, achei claro que iam gostar, mas na verdade foi muito emocionante ver a reação dos meus amigos ao verem seus personagens eternizados, choramos todos hahahaha, acredito que emocionados não somente com o presentinho em si, mas com o quanto a gente ama o que faz, o que construimos, o que nos tornamos, enfim, foi muito especial pra mim.
8. Por que todos devem assistir "Chaves - Um Tributo Musical"?
Chaves Um Tributo Musical se traduz no nome. É um tributo a um artista ENORME, Roberto Gomes Bolaños e de quebra a um dos universos mais mágicos de um artista, o palhaço. Um espetáculo extremamente leve, bem feito, bem estudado e bem executado. Para os fãs é aquela “volta pra casa”, com som, cheiro, tudo o que tiver direito, pois acessa nossa memória mais doce. Para quem sequer acompanhava a série, é um convite, é uma memória que estava em algum lugar que não se sabe onde, mas existe. É nostálgico, é divertido e muuito emocionante. Para artistas e não artistas, para adultos e crianças, para fazer bem a qualquer um que se abra pra essa Vila e essa Trupe. Sou muito feliz nesse espetáculo.