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#Entrevista Andre Torquato


Conversamos com Andre Torquato, que foi uma das grandes revelações do Teatro Musical Brasileiro ainda na adolescência, começou aos 15 anos, como Friedrich Von Trapp no musical "A Noviça Rebelde" e desde então emendou um musical no outro, foi Michael em "As Bruxas de Eastwick", Tulsa em "Gypsy", espantalho em "O Mágico de Oz" e a Drag Queen Felicia em "Priscilla - A Rainha do Deserto". Foi quando ele foi estudar em Nova York (durante este período, ele atuou novamente como Felicia no musical Priscilla, na Nova Zelândia e no navio Norwegian pela Europa) e agora, depois de 5 anos, está de volta ao Brasil para, como ele diz, "um novo começo". No próximo domingo, dia 29, ele estreará o primeiro musical autoral brasileiro da sua carreira, "Cargas D'Água - Um Musical de Bolso" no Espaço Cia da Revista em São Paulo.

Backstage Musical: Andre, você passou um bom período estudando fora e teve a oportunidade de estudar e atuar em algumas peças por lá, o que mudou no Andre depois desta experiência?

Andre: O que não mudou? Risos. É difícil mensurar ou tentar colocar palavras pra descrever o que foi uma experiência de 5 anos. Tenho certeza de que se eu tivesse ficado no Brasil, 5 anos depois, eu ia te responder a mesma coisa. É muito tempo e muitos acontecimentos pra tentar resumir como tudo isso impactou quem eu sou como artista e como ser humano. Confesso que passei pelas situações mais difíceis da minha vida (até agora...) mas também vivi momentos tão incríveis que nunca imaginei serem possíveis. Ao mudar completamente as circunstâncias a sua volta, você consegue perceber melhor a sua visão de mundo, como você reage ao que o universo te entrega e o que você vai jogar de volta pra ele. Não que isso só aconteça em mudanças drásticas, mas elas colocam uma lupa em cima dos seus hábitos, magnificam os seus sentimentos, destacam o que faz você ser você. Mas se você quiser imaginar, fiquei 2 anos estudando Method Acting no Lee Strasberg Institute, trabalhei num fast food de comida chinesa, morei num apartamento de um quarto com mais 3 pessoas (as vezes mais...), cantei no show do Scott Alan no Birdland, fiz tanta audição que já perdi a conta, não passei em 90% delas (incluindo uma em que o pianista riu da minha cara), mas aí fui convidado pra audicionar pra Hamilton, não passei, virei professor de Yoga, passei frio de querer morrer, e entendi o que é ser feliz quando saí pela primeira vez de camiseta depois do inverno, fiz uma peça brasileira em português em NY, conheci pessoas tão especiais que vão ficar pra vida toda, outras muito especiais mas que ficaram só na lembrança, outras que são escrotas, trabalhei num restaurante brasileiro, fui fazer Priscilla num navio pela Europa, fui fazer Priscilla na Nova Zelândia, trabalhei em outro restaurante no Chelsea, perdi a oportunidade de estar em casamentos de familiares, na morte do meu avô, no nascimento do meu sobrinho, fiz rituais de cura em Bali, fiz Regional Theater, e essas são algumas das experiências que eu tive, sem ordem cronológica, mas só pra dar uma ideia de que realmente, tudo em mim teve que mudar. Backstage Musical: Antes de ir para os EUA você fez vários musicais por aqui, como é agora voltar? As coisas por aqui estão muito diferentes?

Andre: Não vejo muito como voltar. Sim, voltei fisicamente para o meu país de origem, mas o tempo não parou aqui, os 5 anos que eu passei lá fora foram 5 anos passados aqui também. Então eu não consigo ver como uma volta, e sim como um novo começo. Imaginar que tudo ia ser igual ao que era antes é criar expectativa e definitivamente se frustrar. E mesmo estando tudo diferente, tem alguma coisas que permanecem as mesmas, mas a minha visão em cima delas muda após ter passado tanto tempo fora.

Backstage Musical: Se você pudesse escolher um musical que você queria ver e fazer parte no Brasil, qual seria?

Andre: Não tenho muito musical ou papel dos sonhos. Lógico, tem papeis que eu acho interessantes, peças que me movem, textos que eu acho importante, mas prefiro deixar eles guardados, pra não dar azar.

Backstage Musical: O que você sente de diferença entre o teatro musical brasileiro e o de lá fora?

Andre: É difícil comparar. Porque eles estão envoltos em circunstâncias completamente diferentes. Cultura, investimentos financeiros, treinamento dos profissionais, público, e vários outros fatores que são determinantes no fazer artístico de qualquer país, difere de lugar pra lugar. Então acho complicado comparar.

Backstage Musical: Falando sobre o Priscilla, o que você sentiu de maior diferença entre a montagem brasileira e a que você fez em seguida?

Andre: Virei veterano de Priscilla, fiz 3 produções com 4 elencos diferentes (Brasil, Nova Zelândia e no navio que foram 2 elencos diferentes, longa história). Diferenças mil. Acho que a maior delas foi ter que fazer a peça em inglês, com sotaque australiano. Terror, pânico, choro. Mas foi incrível ver as piadas "originais" na língua e dialeto deles. Priscilla se passa na Austrália e é muito australiano nesse sentido. Quando estreamos na NZ (vizinha e irmã da Austrália, eles compartilham muito da cultura, do próprio dialeto até) eu percebi o quanto eles estavam próximos do texto, das piadas, da história. Foi sensacional. Também foi muito bom contracenar com atores que fizeram Priscilla no mundo todo, da montagem original na Austrália, West End e Broadway.

Backstage Musical: Conta um pouquinho sobre o seu próximo musical, “Cargas D’Água”. Como é o seu personagem?

Andre: O Cargas virou meu xodó ao voltar pro Brasil. A Ana Paula Villar (ou Aninha pros íntimos, no caso eu, pois ela é minha prima, risos), me chamou pra fazer parte. Li o texto no avião voltando de NY pro Brasil e assim que cheguei disse que tava dentro. Me apaixonei pelo texto do Vitor Rocha e por ser um musical autoral e bem brasileiro. A peça conta a história do Moleque (meu personagem), que mora no interior de Minas Gerais, e é chamado assim pois vive só com o padrasto, que só chama ele de Moleque e por isso, esquece o nome que tem. Ele acaba fazendo uma amizade incomum com um peixe, o qual ele nomeia de Cargas D'Água e promete pro mesmo que vai lhe mostrar o mar. E aí começa essa aventura até o litoral, que fazendo uma curvinha passa pelo sertão, onde ele encontra diversas pessoas que vão lhe ajudar, ou atrapalhar, nessa sua jornada.

Backstage Musical: De uma Drag Queen viajando pelo deserto australiano para um jovem do sertão mineiro. Como está sendo essa experiência de fazer um musical diferente de tudo que já fez?

Andre: Maravilhosa! Acho de extrema importância nos voltarmos para o musical autoral brasileiro. Não há desmerecimento de peças de outro tipo, longe de mim, acho que tem que existir espaço pra qualquer tipo de manifestação artística, mas temos tantos artistas brasileiros capacitados, talentosos e com tanta histórias pra contar, arte pra fazer, porque não aproveitá-los?

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