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A realidade não tão fictícia de Urinal


Em cartaz em São Paulo desde dia 3 de abril, “Urinal, o Musical” tem sido um grande destaque da temporada paulista de 2015. Sob produção do Núcleo Experimental de Teatro, o musical é a versão de ‘Urinetown’, espetáculo composto por Greg Kotis e Mark Hollmann, que estreou no circuito Off- Broadway em 2001, sendo depois transferido para os palcos da Broadway onde ganhou 3 Tonys em 2002. O sucesso da produção não ficou apenas por lá, e aqui no Brasil ‘Urinal’ tem conquistado o público, crítica com casa cheia em todas as sessões.

A história conta de uma realidade “fictícia”: Em uma cidade qualquer, a população enfrenta uma grande crise de abastecimento hídrico, vivendo uma sequidão por mais de 20 anos e, diante dessa situação, como forma de controlar os gastos, são banidos os banheiros privados, e quem quiser fazer suas necessidades deve pagar para usar as chamadas Conveniências Públicas, quem desobedecer a lei é levado para uma um lugar misterioso, chamado Urinal. No entanto, a empresa que administra tais banheiros (CBU – Companhia da Boa Urina) cobra taxas abusivas para uso dessas conveniências, sobretudo para a população menos abastada, se aproveitando da necessidade básica do ser humano para explora-lo e com isso, se enriquecer.

Nesse contexto, somos apresentados a Bonitão (Caio Salay) o bom moço que consegue vislumbrar uma nova realidade e romper com o sistema vigente, desafiando a soberania da CBU e do Patrãozinho (Roney Facchini). Caio impressiona a plateia que acompanha a saga da sua personagem torcendo para que ele consiga reverter toda a opressão e tirania, se emocionando com a descoberta de seu ideário, sua esperança e capacidade de liderança, tudo contado com uma interpretação muito verdadeira. Bonitão é impulsionado por Luz (Bruna Guerin) numa relação amorosa bem complexa, mas muito interessante de se acompanhar.

Toda a trama é narrada com o auxílio do Policial. Vivido pelo ator Rodrigo Lombardi em sua estreia nos musicais, a personagem oscila entre suas funções como instrumento de controle do Patrãozinho, se opondo a revolução, mas também entrando em contato direto com o público, rompendo a quarta parede e expondo de maneira clara a trama para os presentes. O desafio do ator foi grande: Continuar o trabalho de Daniel Costa (afastado da produção por motivos de sáude) após este ter ganhado o Prêmio Bibi Ferreira de ‘Melhor Ator Coadjuvante’. Rodrigo impressiona o público que está acostumado com sua atuação na televisão, o ator cresce em cena, apresentando um trabalho corporal incrível. De maneira viva e bastante peculiar, ora amedrontando o público sobre a terrível ameaça de Urinal, ora sendo amigo do público e defensor da narrativa ao lado da ‘Garotinha’ (Luciana Ramanzini, genial!), o Policial-Narrador de Rodrigo é um dos pontos chaves da trama que faz sátira dos musicais consagrados.

Com personagens que funcionam como arquétipos narrativos, “Urinal” tem um elenco afiado. Bruna é dos destaques da produção, com sua personagem Luz, tendo até conquistado por sua performance o Prêmio Bibi Ferreira de ‘Melhor Atriz’’. Utilizando da usual inocência, pureza e doçura das ‘mocinhas’, a atriz é um ponto que atenua a história, trazendo a comédia para dentro de uma história trágica, feita com um humor refinado e inteligente, uma vez que todas as suas piadas funcionam. Junto de Bruna, Luciana Ramanzini (indicada ao Prêmio Bibi Ferreira de ‘Melhor Atriz Coadjuvante’), Nábia Vilella (Penélope Peneira) e Fábio Redkowicz (Soldado Berro) continuam a trama com personagens interessantes, bem construídos e que prosseguem fazendo essa desconstrução da narrativa e dos personagens dentro do Teatro Musical, com referências inteligentes, o que torna ‘Urinal’ mais interessante para aqueles que são apaixonados pelo gênero.

Todo o musical é bem amarrado pela brilhante direção de Zé Henrique de Paula, que além de Diretor (premiado recentemente como ‘Melhor Diretor’ no Prêmio Arte Qualidade Brasil) também é versionista, figurinista e cenógrafo. Com quase nove meses de temporada, e poucas mudanças no elenco, é interessante ver a harmonia e a segurança de um elenco que se comunica com o público de forma intensa e viva, usando a proximidade e o aconchego do teatro a seu favor.


Por fim, “Urinal, O Musical” é uma prova do potencial da arte em falar de temas pertinentes e provocar algo na plateia. Escrito com base na teoria malthusiana que dita sobre a possível escassez de recursos naturais à medida que a população cresce em números sem preocupação com a sustentabilidade. A estreia da produção brasileira ocorreu quando estava em pauta a discussão sobre a crise hídrica no estado de São Paulo, e agora, perante a tragédia com o rompimento das barragens no interior de Minas Gerais, “Urinal” novamente torna-se pertinente. A ideia de uma cadeia de empresas poderosas e políticos de índole duvidosa que administra uma crise a seu bel favor chega ser tão familiar para nossa realidade que nos perguntamos se de fato o texto não foi escrito por um brasileiro.

"Urinal, O musical" nos leva a reflexão sobre a nossa maneira de consumo pouco sustentável e nossa responsabilidade social. As personagens com nomes tão genéricos, eleva-os a condições de personificações pessoais e que facilita a identificação do público com a peça pois sempre haverá um mocinho 'Bonitão' desafiando o sistema e fazendo banca de herói; sempre haverá um 'Patrãozinho' inescrupuloso, amoral e controlador; sempre haverá uma 'Garotinha' fofa, judiada e que consegue captar o verdadeiro sentido das coisas devido a pureza de seu coração. A história de 'Urinal' segue reiventando-se e se re-significando de acordo com a realidade atual e suas diferentes plateias.

Com ingressos quase que esgotados, a atual temporada se encerra no próximo dia 14 de dezembro. No entanto, uma boa notícia para aqueles que ainda não tiveram a chance de conferir o musical é que uma nova temporada de 'Urinal' está programada para o ano de 2016: A produção sera relocada para um espaço maior, assumindo a partir do dia 17 de fevereiro os palcos do Teatro Porto Seguro sempre as quartas e quintas-feiras as 21h até dia 21 de abril.

SERVIÇO Temporada até dia 14 de dezembro Teatro Núcleo Experimental - Rua Barra Funda, 637, Barra Funda- São Paulo Sextas, Sábados e Segundas - 21h , Domingos - 19h Ingressos a venda pelo site : www.compreingressos.com.br

Nova temporada entre os dias 17 de fevereiro a 21 de abril Teatro Porto Seguro - Alameda Barão de Piracicaba, 740, - Campos Elíseos São Paulo Quartas e Quintas - 21h Bilheteria ainda não aberta.

Relembre nossa cobertura dos Bastidores do musical

NOTA: No vídeo é comentado que sexta-feira, o musical é gratuito. No entanto, desde dia 7 de junho os ingressos para as sessões de sexta-feira passaram a ser pagos.


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