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NINE: Entre o Feminino e o Felliniano.


A mais recente produção da estimada dupla Möeller & Botelho veio como uma grande surpresa para os que aguardavam outros musicais já anunciados pela dupla. Com data de estreia marcada para dia 23 de maio, os ensaios de “Nine – Um Musical Felliniano” começaram no início de abril, ocorrendo paralelamente no Rio e São Paulo, criando grande expectativa do público em assistir esse que será o 35º musical da dupla.

Nine é um musical da Broadway com música e letra de Maury Yeston e libreto de Arthur Kopit, que estreou em 1982, sendo aclamado pelo público e pela crítica, conquistando 5 prêmios Tony incluindo o de melhor musical. O musical conta a história de Guido Contini, um cineasta de carreira consagrada dentro do cinema italiano, que encontra-se em crise existencial e criativa às vésperas do lançamento do seu nono filme e seu 40º aniversário. Em busca de inspiração –ou de válvula de escape- Contini se hospeda em um spa e recorda seus tempestuosos relacionamentos com as diferentes mulheres que passaram por sua vida.

“Nine” é baseado no filme “8 ½” de 1963 do cineasta italiano Federico Fellini (1920-1993), que na época ganhou o Oscar® de Melhor Filme Estrangeiro. O filme cumpre o mesmo papel na carreira de Fellini que “Don Quixote cumpre na carreira de Cervantes: é entendido como sua autobiografia e obra-prima que consagrou a carreira do artista em questão. No caso de “8 ½”, o título é uma alusão aos oito filmes que o cineasta dirigiu, somado de outro (“Luci de Varietá”, Mulheres e Luzes no Brasil) que co-dirigiu com Alberto Lattuada. Entre memórias fragmentas e lembranças do passado, vemos a história do cineasta Guido Anselmi, o próprio Fellini, focada em carreira e análise psicanalíticas de sua personalidade.

A trajetória de Guido: O filme que inspirou o musical, que virou filme musical e que por fim, chegou ao Brasil.

Do cinema para os palcos, “Nine” também busca fazer essa análise de Guido (agora sob sobrenome Contini) mostrando suas complexas reflexões e percepções sobre a vida em meio a atordoados relacionamentos que, culminam no colapso mental e criativo que o cineasta se encontra na estória. A temática do filme conquistou o compositor Maury Yeston, que se identificou com o enredo, aceitando o convite para compor as músicas do musical, optando pro partir da pergunta “o que são as mulheres para os homens?” e assim, desenvolver o musical. Vale lembrar que o próprio Fellini conferiu o musical na data de sua estreia na Broadway e gostou muito do resultado.

A trajetória de “Nine” continuou com uma turnê nacional do musical logo após o encerramento da temporada na Broadway. Em 2003, na ocasião do seu revival no Eugene O’Neill Theattre, o musical foi premiado com o Tony de melhor remontagem da temporada e tinha no elenco Antonio Banderas (Guido), Chita Rivera (Lili) e Jane Krakowski (Carla) que conquistou o Tony de melhor atriz coadjuvante. O musical ainda teve produções em outros países como Inglaterra, Alemanha, Argentina, Austrália e Japão.

Em 2007, estreou a adaptação cinematográfica do musical. Sob direção de Rob Marshal (em alta pelo seu premiado trabalho com o musical “Chicago”) o filme “Nine”, assim como “Chicago”, se difere muito da versão dos palcos; a começar pela trilha sonora. Na tentativa de conquistar o Oscar® por canção original, Yeston escreveu três novos números para o filme: “Guarda la Luna” (em substituição da canção tema “Nine”), “Cinema Italiano” (que rendeu um incrível número performado por Kate Hudson) e “Take It All ”(essa, indicada ao prêmio). No filme, a ordem das canções também foi alterada e novos personagens masculinos foram acrescentados. Entre novas músicas e outras cortadas, as principais diferenças se dão pela visão glamorosa que Marshall atribuiu aos números musicais, como por exemplo a sequencia de ”Be Italian” com pandeiros, cadeiras e toda aquela quantidade de areia coreografada, tudo com o intuito de ressaltar a dinâmica dos sonhos e fragmentos de memória. Sem dúvidas, o grande chamariz do filme é o elenco estelar: Daniel Day Lewis, Marion Cotillard, Penelope Cruz (indicada ao Oscar), Nicole Kidman, Kate Hudson, Fergie, Judi Dench e Sophia Loren.

As mulheres tem papel fundamental na estrutura narrativa de “Nine”. São essas mulheres esposas, mães, amigas, irmãs, professoras, amantes e sentenciadoras do destino dos homens: a maneira como se dão as entregas e as reservas dentro dos relacionamentos e, a dualidade entre o masculino e feminino é o ponto de construção argumentativo de Guido para a encruzilhada que sua vida e carreira se encontra. A cena de abertura do musical, “Overture Della Donne”, mostra exatamente isso: Guido cercado em meio às mulheres de sua vida como suas musas inspirados que podem lhe trazer respostas, ou mais dúvidas.

Para o diretor Charles Möeller, “Nine” é “uma festa de beleza e amor pelo sexo feminino” e a maneira como o musical é concebido e a natureza do protagonista ressalta as mulheres de sua vida, que no caso são sua esposa (que foi sua primeira musa em seus filmes), sua amante, sua atriz preferida e musa inspiradora, uma jornalista de moda americana, a produtora de seus filmes, uma prostituta e sua mãe. Tão diferentes entre si, o impacto que cada uma delas traz à vida do cineasta é bem peculiar e vemos aí nascerem os grandes números dos musicais, como delírios e visões de Guido. Sendo assim, cada uma dessas personagens traz um desafio para cada atriz que compõe o elenco: elas são a essência do musical e os moldes que definem Guido Contini.

Se no cinema, grande nomes de Hollywood interpretaram as mulheres da vida de Guido/Fellini, não seria diferente nos palcos brasileiros. “Nine” marca a estreia nos musicais das globais Carol Castro (Luisa, a esposa), Mayana Moura (Claudia, a musa) e Letícia Birkheuer (Stephanie, a jornalista), muito bem escaladas para cada uma das personagens, dedicadas entre ensaios e preparação especial de canto. Beatriz Segall será Mamma Contini, a mãe de Guido, retornando aos musicais aos 88 anos, já se preparando para futuros projetos com a dupla. Além das estreantes, Möeller e Botelho trazem novamente aos palcos Totia Meirelles, como Lili La Fleur, a produtora –e confidente- de Guido; Myra Ruiz como Sarraghina, a prostituta com que o cineasta se encantou na infância; e Malu Rodrigues como Carla Albanese, a amante. Figurinha carimbada nas produções da dupla, Malu viverá um grande desafio após dar vida a mocinhas como Dorothy e Wendla.

Apresentadas as mulheres de “Nine” resta ainda o protagonista, o lado masculino do musical. Tanto o filme “8 ½”, quanto o musical bebem da psicanálise junguiano, sobretudo exemplificada pelos sonhos e visões, para construção do perfil e traços comportamentais de Guido Contini, o que torna o personagem mais rico e complexo. Na montagem brasileira, o desafio ficou a encargo do ator italiano Nicola Lama (“O Mágico de Oz”, “Um Violinista no Telhado” e mais recentemente, “Os Saltimbancos – Os Trapalhões”). O ator será o único homem no elenco, execetuando-se os jovens atores que vivem Guido na infância, o que deixa o público mais curioso ainda com o resultado. O fato é que um ator italiano no papel italiano é um grande argumento a favor do musical.

Charles Möeller assume a direção de cena e para isso mergulho no universo de Federico Fellini, levando o elenco a workshops sobre o cinema italiano e o entendimento sobre a psicanálise de Carl Gustave Jung. Como usual, Cláudio Botelho assume a direção musical e as versões para o português. A dupla é conhecida por trazer sua visão artística para cada um dos musicais que produz no Brasil, já prepara surpresas para o público, entre elas, a personagem Giulietta, criada especialmente para a atriz Isabella Moreira (que trabalhou em musicais da dupla quando criança). Na equipe criativa, figuram nomes já conhecidos nas produções Möeller & Botelho: Marcelo Claret (design de Som), Paulo César Medeiros (design de Luz) e Tina Salles (Coordenação Artística). O estilista Lino Villaventura assina os figurinos, deixando sua marca de estilo, aliada à caracterização de Beto Carramanhos, em sua estreia como figurinista em musicais. Já o experiente Alonso Barros assume mais uma vez as coreografias nos musicais de Möeller e Botelho.

A poucos dias da estreia, não nos resta dúvidas que “Nine – Um Musical Felliniano” será mais um grande acerto da Möeller & Botelho. O musical será o primeiro a estrear nos palcos do Teatro Porto Seguro, que abriu as portas ao público na última 3ª feira dia 5/5, e o 3º musical produzido diretamente pela própria produtora da dupla (MB). Deixem ser transportados pela Veneza dos anos 60, e serem tomados pelas inquietações de Guido Contini: Be Italian!

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