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Crítica- Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 minutos

Por Rafael Velloso

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Nós brasileiros temos muito gênios da música. Pessoas de importância ímpar para nossa cultura, e com uma bagagem de história própria e em momentos históricos que se confundem com temas, fatos e relatos. Temos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, e claro, dentre outros, Chico Buarque.

A dupla Cláudio Botelho e Charles Möeller montam um espetáculo entrelaçando harmoniosamente algumas das principais canções de Chico, e isso é feito de forma tão decente, que de fato parece um espetáculo desenvolvido pelo próprio Buarque. Com oito atores em cena, misturados com um cenário que se resume à uma armação de ferro, misturada com jogos de luzes, conhecemos a trajetória de uma trupe mambembe em suas passagens por cidadelas do Brasil apresentando a sua montagem de “A Dama das Camélias”. Botelho (diretor do musical) também interpreta o diretor da companhia, e narrador da história, e se sai bem sem tentar cantar como profissional, sua voz às vezes, lembra a do próprio Chico Buarque, como na cena de “Geni e o Zepelin”, um dos números mais ensaiados, onde atores “legendam” o refrão com placas, mostrando um jogo de rapidez e atenção para não se confundirem.

Ainda conta-se com a diva do teatro musical atual, Soraya Ravenle, a esposa do diretor, invejosa, mesquinha, mas com uma voz impressionante. A “namoradinha” dos diretores também está em cena, trata-se de Mallu Rodrigues, que também fez outras produções de Möeller e Botelho, como “O Mágico de Oz”. Com seu rostinho de boneca e voz potente, Mallu é quem mais se destaca ao lado de Soraya no musical, principalmente na versão de “Tatuagem” repleta de erotismo e paixão, sentada no colo de seu par. Outro mérito da produção é não se prender a coreografias grandiosas. Na verdade, essas quase não são percebidas, confundidas com a capacidade de atuação, em movimentos dançantes, circenses e disfarçados. O elenco se desdobra e consegue um resultado interessante, impactado pelo figurino simplório, mas que se encaixa perfeitamente na narrativa.

Ao todo, cerca de 50 músicas de Chico Buarque são encenadas. Os 90 minutos do título são apenas uma sonoridade para o tal, já que eles são prorrogados além, com a desculpa de ser um desempate poético. E se o espetáculo ganha pelo carisma dos atores, e trabalho da produção e do roteiro de Charles Möeller em encaixar as canções na história sem forçar a barra, é o ritmo oscilante que pode desagradar algumas pessoas, principalmente àquelas que não são tão apaixonadas por Chico Buarque. Alguns números acabam sendo um pouco tediosos para quem não é muito adepto do gênero e pouco chamativos. Talvez aí fosse a hora de uma coreografia, ou algum objeto de cena que chamasse e convidasse o público a se divertir. Não que se torne chato, mas, por exemplo, na canção “Ciranda da Bailarina”, todos os atores com suas cabeças dentro de cestos de bebês, vestidos como bebês e cantando como… Bebês! Não tem como não se divertir. Outro momento de descontração e animação do espetáculo, é quando algumas pessoas da plateia são convidadas para subirem ao palco,e acompanharem o espetáculo particular dos atores para eles. Todos se divertem lá em cima e se sentem dentro da cena que está sendo montada. E se em “Roda Viva” canção importante, composta numa época de ditadura (e nome de uma peça de Chico Buarque que ele não gosta de lembrar), encenada por dois atores, e é de arrepiar com o arranjo vocal, “Bastidores” imortalizada na voz de Cauby Peixoto, se torna quase que no mesmo poder sonoro, encenada pelo dueto entre Soraya e Botelho. E o mesmo se fala de “Meu Amor”, onde Lílian Valeska empresta sua voz potente para falar sobre os complexos sentimentos femininos.

Particularmente gosto das músicas de Chico Buarque, mas conheci muito mais com “Todos os musicais…”. Senti falta de algumas das minhas preferidas, como “A Banda” e “Vai Passar”. Mas fui gratificado com “Apesar de Você”. E claro, é um musical encenado, com um roteiro dramático. Não apenas canções jogadas aleatoriamente, como têm surgidos alguns “pseudomusicais” pelos palcos brasileiros. Não que sejam ruins. Não que não sejam interessantes. Mas nem todos são como “Sassaricando”, nem todos são como “Elis”. Nem todos são com canções de Chico Buarque de Hollanda.

Direção Charles Möeller

Direção musical Cláudio Botelho

Duração 90min

12 anos.

Estreou em 9/1/2014.

Endereço:Teatro Clara Nunes – Marquês de São Vicente – 52 – Shopping da Gávea – Gávea

Lugares:499 lugares

Horário:Quinta a sábado, 21h; domingo, 20h.

Faixa de Preço:R$ 80,00 a R$ 100,00.

Até dia 27 de abril.

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