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“Jacinta” estreia em São Paulo

Por Polly Leite

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A comédia musical “Jacinta”, após seis meses em cartaz no Rio de Janeiro, estreou em São Paulo no dia 09 de agosto, no teatro do Sesc Vila Mariana. O espetáculo é protagonizado por Andrea Beltrão, dirigido por Aberbal Freire-Filho e conta com a direção musical do titã Branco Mello. O Backstage Musical esteve presente na coletiva de imprensa de Jacinta, realizada na última quinta-feira, dia 08 de agosto e traz para você alguns detalhes sobre a produção.

“Jacinta” é um espetáculo concebido por Newton Moreno, reconhecido como um dos principais dramaturgos da atualidade. A aventura da atriz portuguesa começa numa representação para a rainha de Portugal. A monarca fica tão espantada com a desastrosa interpretação a que assiste que perde o ar e morre. Por isso, Jacinta é deportada para o Brasil, onde chega portando a alcunha de pior atriz do mundo e onde também canta rock, dança funk, fala em Nelson Rodrigues, mas sem deixar de ser uma atriz portuguesa do século XVI. A protagonista parte, então, em busca do aplauso e do reconhecimento, numa travessia em que ela esbarra até com Shakespeare. Em sua jornada, Jacinta atravessa percalços, encontra-se com outros personagens e passa ainda por São Vicente, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Vila Rica (Ouro Preto), chegando à linha do Tratado de Tordesilhas, que dividia o chamado Novo Mundo entre Portugal e Espanha. Ao longo da aventura, o público fica em dúvida se Jacinta conseguirá ou não se tornar uma boa atriz, resposta que vem ao final.

No elenco também estão Augusto Madeira, Gillray Coutinho, Isio Ghelman, José Mauro Brant e Rodrigo França, que se revezam em inúmeros personagens. Quatro músicos formam a banda que tocam ao vivo as 13 canções e os nove temas instrumentais da peça. A cantora Chris Delanno cuidou da preparação vocal do elenco. Vale ressaltar ainda que um CD com as canções do espetáculo foi produzido e estará disponível para que o público possa adquiri-lo.

Ao comentar sobre como era interpretar a pior atriz do mundo, Andrea Beltrão brincou: “É ótimo! Eu posso ser ruim de verdade”, disse rindo. Mas a atriz defende sua personagem e argumenta que todos nós temos um pouco dela: “A Jacinta é péssima, mas ela tem uma coisa assim que humaniza ela demais que é o desejo sincero de querer ser atriz. Ela não tem vergonha nenhuma de errar, ela é uma apaixonada, uma obstinada, obcecada. Ela não tem vergonha de não saber. Ela não tem ver do vazio, de se jogar no abismo. Acho que isso também é a vida de todos nós, assim, eu acho que esse momento péssimo, ‘Jacinta’ é o começo de todos nós na vida sempre. A gente é sempre meio ‘Jacinta’ em algum momento.”

Durante a coletiva, que praticamente teve um tom de conversa sobre musicais e sobre o teatro em si, foi ressaltado pela equipe que o espetáculo não assume compromissos com o realismos ou reconstituição histórica. Por exemplo: o autor português Gil Vicente, morto por volta de 1536, aparece utilizando uma máquina de escrever; e Jacinta diz que gostaria de conhecer Nelson Rodrigues. Além disso, enfatizou-se que banda, fica no meio do palco, os microfones não ficam escondidos como geralmente ocorre em espetáculos de teatro musical e a coxia é “aberta”, ou seja, as trocas de figurino são visíveis ao público. Sobre esse último aspecto, os atores brincaram dizendo que muitas pessoas, acostumadas ao formato tradicional dos musicais, estranhavam no início, mas logo se acostumavam à linguagem oferecida pelo espetáculo.

Em relação à atual fase de crescentes produções de teatro musical no país, Andrea Beltrão afirma que vê o fenômeno de forma positiva porque contribui para que o público se habitue a ir ao teatro, o que é benéfico tanto para os espectadores como para quem trabalha com teatro. No entanto, ao ser questionada sobre a possibilidade de atuar em um grande musical da Broadway montado no Brasil, a atriz respondeu:

“Não sei se eu consigo, mas eu também não tenho muito interesse assim em reproduzir aqui, no meu país, uma coisa assim, tão importada. Não tenho nenhum preconceito, quando viajo eu vou assistir, eu gosto, e eu me divirto. Vi ‘Mary Poppins’, vi ‘O Rei Leão’, que eu amei, vi a ‘A Família Addams’ lá fora, não vi aqui porque eu tava em cartaz, mas adoraria ter visto com a Marisa, com o Daniel. Enfim, passa muito longe do preconceito, mas é que realmente não me dá vontade. Me dá vontade de fazer um musical com Newton Moreno, com Aderbal, Branco, com o Emerson e esses cantores péssimos que nós somos, muito esforçados. A gente nos ensaios brincava assim: não pode cantar bonito! Se cantar bonito, vai levar cruz no caderninho, tem que cantar de verdade. Se rasga, mas não adianta ficar procurando uma coisa que não é nossa. Eu não nasci a Claudia Netto, nem a Vanessa Gerbelli. Eu não nasci essas pessoas, então eu dou o meu jeito. Eu canto com um prazer enorme e tento não sacrificar o ouvido da plateia.” Ela acrescenta ainda que estudou canto para potencializar sua voz no palco como atriz, não com intenção de virar cantora.

Dessa forma, Jacinta mostra-se como uma iniciativa brasileira de criação de teatro musical, contribuindo assim para fomentar novas iniciativas de produções nacionais desse gênero, com letras, músicas e narrativas criadas por autores brasileiros. Esse aspecto, claro, desperta o nosso interesse em conferir a proposta do espetáculo.

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