No dia 1º de maio, foram celebrados os 10 anos da estreia de um musical de grande sucesso na Broadway: ‘The Drowsy Chaperone ‘. Conhecido aqui no Brasil como ‘A Madrinha Embriagada’, o musical estreou oficialmente em Toronto, no Canadá, em 1998, mas só chegou aos palcos da Broadway em 1º de maio de 2006.
A história foi criada por amigos durante a despedida de solteiro do autor da peça, Robert Martin. Durante uma brincadeira, vários colegas de Bob Martin ajudaram a criar o enredo, parodiando várias comédias musicais da Broadway. Inicialmente, a história toda se passava nos anos 1920 e contava os preparativos para o casamento de Bob Martin com sua futura esposa Janet Van de Graaff e as trapalhadas de sua madrinha embrigada.
Conforme o tempo foi passando, amigos foram assistindo, dando palpites e aprovando a peça, e então surgiu a ideia do comediante, ator (e noivo) arrumar o roteiro e inscrever para o Toronto Fringe Festival. As músicas e letras ficaram a cargo de Lisa Lambert e o libreto, assinado por Bob Martin e Don McKellar. O resultado foi uma peça bem estruturada, com um enredo divertido, músicas dançantes e várias novidades acrescentadas à versão original. Com as alterações, a peça ganha um narrador, o chamado Homem da Poltrona, um solteirão solitário, fã de musicais, apaixonado pelo disco da fictícia peça “A Madrinha Embriagada”, deixado pela sua falecida mãe. Com isso, a história da peça, começa a ser contada em tempo real, enquanto o Homem da Poltrona ouve seu disco.
Depois da estreia, em Toronto, A Madrinha Embriagada chegou à Broadway em 2006, foi para Londres, em 2008, Japão, em 2009, Austrália, em 2010, São Paulo, em 2013. A montagem brasileira ficou por conta do Ateliê de Cultura, sendo o primeiro espetáculo montada em parceria com o SESI/FIESP dentro de um projeto de popularização do Teatro Musical, a versão e direção ficaram a encargo de Miguel Falabella, que concebeu uma roupagem bem brasileira ao musical. No enredo, a mansão de Dona Francisca Jafet, tocada pelo mordomo Agildo, se prepara para receber o casamento de Roberto Marcos e a estrela Jane Valadão, conforme a adaptação dos nomes que a versão brasileira recebeu. Os padrinhos são Jorge, um homem experiente, que está organizando a festa, e a Madrinha, uma mulher de meia idade que tem uma grande afinidade com bebidas alcoólica e está sempre embriagada. Aparecem, ainda, no casamento, o produtor de Jane Valadão, o Sr. Iglesias, sua acompanhante, a corista Eva, que contratam Rolando Bartelli para arruinar o casamento. O produtor é ameaçado por bandidos fantasiados de padeiros, que haviam sido contratados por um investidor que gastou muito dinheiro na última produção de Jane Valadão e que não quer que ela abandone os palcos. Antes do fim da peça, ainda surge uma aviadora no palco, o que deixa as coisas ainda mais bizarras na peça que o Homem da Poltrona tanto idolatra.
A peça mescla os momentos da solidão do Homem da Poltrona, com suas explicações divertidas e metalinguísticas sobre a peça que ele está escutando. No ano de sua estreia, ‘The Drowsy Chaperone’ foi indicado a 13 Tony Awards, dos quais venceu 5, por Melhor Libreto (Bob Martin e Don McKeller), Melhor Música Original (Lisa Lambert e Greg Morrison), Melhor Atriz Coadjuvante (Beth Leavel, A Madrinha), Melhor Cenário (David Gallo) e Melhor Figurino (Gregg Barnes) e ainda venceu 7 prêmios do Drama Desk Award e 1 prêmio do Theatre World Award. No Brasil, A Madrinha Embrigada recebeu 4 estatuetas em categorias importantes do Prêmio Bibi Ferreira: Melhor Musical pelo voto popular, Melhor Atriz Coadjuvante (Kiara Sasso), Melhor Figurino (Fause Haten) e Melhor Desenho de Som (Gabriel D’Angelo).
Para comemorar os 10 anos de estreia de A Madrinha Embriagada na Broadway, o Backstage Musical fez uma compilação de curiosidades sobre essa peça, que, só no Brasil, ficou em cartaz por onze meses, levando 150 mil espectadores gratuitamente ao teatro.
1. A Personagem sem Nome Já repararam que a “Madrinha” não tem nome? Existem suposições para isso: Chaperone, em inglês, não é propriamente a madrinha do casamento, e, sim, uma dama de companhia que aconselhava jovens no início do século passado. Era geralmente uma cerimonialista contratada. Num contexto mais antigo. “Chaperona” (sim, a palavra existe em português) eram aquelas amas renascentistas que ajudavam as jovens a vestir aquelas roupas com espartilho, vestidos bufantes e perucas enormes.
2. Amigo e Padrinho Ao contrário da Madrinha, Jorge, não é só um “amigo bom”, como sugere a letra da versão em Português. Best Man, em inglês é o padrinho, aquele que ajuda o noivo a organizar cada detalhe do casamento.
3. A estrela Francesa No original, quando Roberto Marcos está vendado de patins e encontra Jane Valadão, ela se passa por uma francesa, de nome Mimi (na versão de Miguel Falabella, ela é Eulália, de Santa Bárbara d’Oeste). No finzinho da peça, quando Jane fala que usou o sotaque da Eulália na peça “A farra da Cabrita”, no original ela cita o sotaque francês de Mimi na peça “Monique, segura essa baguete” (“Hold that Baguette”).
4. Outro Personagem sem Nome No original, Agildo, o mordomo, não tinha nome. Era chamado de Underling, ou traduzindo grosseiramente, “serviçal” ou “subordinado”.
5. O Teatro Existe Sim! No original, o musical é encenado no Morosco Theatre, adaptado para o Theatro São Pedro. Assim como o Theatro São Pedro, de São Paulo, o Morosco Theatre existiu de verdade. Foi inaugurado em 5 de fevereiro de 1917, na Broadway, na 45th Street, com seus 955 lugares lotados. O teatro foi demolido em 1982, depois de ser comprado por um investidor imobiliário.
6. O Teatro Brasileiro Curiosamente, o Theatro São Pedro foi inaugurado dias antes do Morosco, em 16 de janeiro de 1917. Falabella o escolheu para ser o local da fictícia peça na versão brasileira por se tratar de um importante teatro durante a Semana de Arte Moderna de 1922, época em que a história do musical se passa.
7. Personagens que ninguém sabe deles direito As histórias fictícias dos atores que interpretavam Agildo e Dona Francisca são as menos explicadas de todo o espetáculo. No original, eles se chamam Noel Fitzpatrick e ela, Ukulele Lil. Miguel optou por traduzir o nome deles de Noel Fazeto e de Lili do Bandolim. No texto original, o Homem da Poltrona explica que pouco se sabe sobre as duas pessoas, mas conta que devido ao nome Ukulele, ele acredita que ela tocava esse instrumento.
8. O Amante não necessariamente argentino No original, Aldolpho é, na verdade um amante latino. Em português, ele ficou como um argentino inescrupuloso, provavelmente brincar com a rivalidade do Brasil com a Argentina e assim, a piada ser mais adequada ao público.
9. Troca de Musicais O Zelador, na versão do Miguel, cita os musicais ‘Miss Saigon’, ‘Cats’, ‘Fantasma da Ópera’, ‘Os miseráveis’ e ‘Gaiola das Loucas’. Em inglês, no original, ele cita ‘Miss Saigon’, ‘Cats’, ‘Les Mis’ e ‘Saturday Night Fever’. A troca de ‘Satuday Night Fever’ possivelmente foi feita pelo fato de nunca ter tido uma montagem profissional no Brasil, enquanto ‘A Gaiola das Loucas’ teve sua montagem brasileira produzida e encenada por Falabella.
10. Porque não se pode Beber Martinis (com ou sem azeitonas)?
O musical, que se passa nos anos 20, fala da Lei Seca, que vigorou nas décadas de 1920 e 1930 e proibia o consumo de bebidas alcóolicas de qualquer espécie. Outro musical que retrata dessa época é “Antes Tarde do Que Nunca”, que recentemente foi versionado por Falabella, que o protagonizava ao lado de Simone Gutierrez.