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Meus sinceros votos de boa sorte, ou quase isso


Quem conhece algum artista, com certeza deve ter desejado, (ou pelo menos ouvido alguém desejar) ‘Merda!’ antes de uma apresentação para esse artista em questão. Quem não está habituado a esse meio, possivelmente, deve ter achado uma indelicadeza da parte de quem falou. Na realidade, no teatro, desejar ‘merda’ é desejar boa sorte no dia de uma estreia ou de qualquer outra apresentação. Você já parou para pensar o porquê dessa expressão, no mínimo, escatológica? A gente explica para você: O dito teria surgido na França, durante o século XIX. Na época, a única forma de locomoção das classes mais abastadas frequentadora dos teatros e outros movimentos artísticos, eram as carruagens. Por isso, quando uma companhia de teatro sentia o forte odor de excremento de cavalos, dos camarins, podia estar certo que a casa estava cheia. Quanto maior o cheiro de cocô de cavalo, consequentemente, maior o número de espectadores naquela noite. Com isso, passou a desejar-se ‘Merde’ antes das apresentações. A expressão acabou sendo levada para outras regiões da Europa. ‘Merda’, em italiano, ‘Mierda’, em espanhol, e, finalmente, ‘Merda’ em português. O termo em francês fez tanto sucesso que foi apropriado pelo dramaturgo inglês William Shakespeare e se tornou, praticamente, votos de boa-sorte universal para qualquer artista. Há quem ainda diga que o termo ‘Merda’, no Brasil, ficou conhecido devido a um ator em começo de carreira que iria estrear numa determinada noite. Indo para o teatro, ficou preso em um incêndio e para desviar, se perdeu do caminho correto. Se atrasou, mas achou o caminho do teatro. Chegando lá, logo na porta, para completar seu dia de má sorte, pisou em um cocô de cachorro. Como dos males, o menor, ele acreditou que foi o cocô que trouxe boa sorte para a apresentação, que foi um sucesso. Apesar de até Shakespeare ter usado a expressão ‘merda’, a colônia inglesa, os Estados Unidos não aderiram e até hoje não reconhecem ‘merde’ como boa sorte antes de uma apresentação. Eles usam outra expressão: ‘break a leg’, ou seja, ‘quebre a perna’. Mas o que quebrar a perna pode trazer de boa sorte para um ator? Um irlandês, de nome Robert Wilson Lynd, escreveu em 1º de outubro de 1921 um artigo na revista inglesa New Stateman, onde ele dizia que o teatro é o segundo lugar mais supersticioso, perdendo apenas para as corridas de cavalo. Para ele, desejar Sorte a uma pessoa de sorte anularia a maré boa, então, seria preciso desejar alguma coisa ruim para que a sorte se sobressaísse. Sendo assim, por sugestão do que ele disse no artigo, o termo ‘break a leg’ começou a se repercurtir: “Você deve dizer algo insultante, como quebre a perna! ”, dizia. Outra teoria dá conta de que o ‘quebre a perna’ seja uma tradução mal feita da língua Yiddish para o alemão: a frase “Hatsloche un Broche”, que significa “sucesso e bênçãos”, teria uma fonética parecida com “Hals un Beinbruch", que em alemão significa “quebre o pescoço e a perna”. Documentos históricos mostram que era praticamente obrigatório os pilotos alemães, durante a Primeira Grande Guerra, reproduzirem “Hals un Beinbruch " antes de um vôo, desejando erroneamente pelo sucesso e as bênçãos em Yiddish. Essa expressão teria despertado a curiosidade dos pilotos dos Estados Unidos, que a levaram simplificadamente como “quebre uma perna” (já que quebrar o pescoço é muito mais danoso e, às vezes, com sequelas irrecuperáveis). Além dos Estados Unidos, outros países não dizem ‘merda’ para desejar boa sorte no teatro. Na Austrália, por exemplo, os atores dizem ‘Chookas' uns para os outros. A palavra vem da gíria “chooks", que significa frango. Ou seja, deseja-se sucesso, para o ator ter dinheiro para comprar um belo jantar. Durante o auge das óperas alemãs, os atores diziam “Toi toi toi " , batiam na madeira três vezes e cuspiam no chão para espantar os demônios. A expressão seria uma forma que os alemães entendiam a um dito hebraico “rotwelsch tof ", que significa 'sai diabo'. Como eles não sabiam reproduzir a fonética disso, ficou “toi toi toi ”, mesmo.

Na Rússia, com uma cusparada para afastar os maus espíritos, os artistas desejam boa sorte antes de uma apresentação dizendo ‘tfu tfu ', claramente uma onomatopeia do barulho que o cuspe faz. Nas óperas italianas, além de ‘merda’, um colega diz “in bocca al lupo", ou seja, ‘esteja na boca do lobo’, e o outro responde “crepi il lupo", que significa ‘o lobo vai morrer’.

Outra curiosidade do teatro também tem início na França do século XIX: quem vai a qualquer apresentação de teatro sabe que a peça vai começar após o soar dos três sinais. Mas de onde eles vêm? Segundo a tradição, o primeiro sinal significava para a companhia teatral ou de ballet saber que o Rei da França já havia saído do palácio e se dirigia ao teatro. O segundo sinal significava que a carruagem do rei estava cruzando os portões e o terceiro e último sinal significava que o rei já tinha recebido o beija-mão; estava sentado no seu camarote; e que, portanto, a apresentação devia começar. As expressões foram passando por gerações e gerações de artistas e adentrando nos diferentes públicos como expressão popular. Se quiser manifestar os seus votos de feliz espetáculo a um artista, lembre -se: Por uma questão de etiqueta de bons modos, não se deve desejar ‘boa merda’, ‘muita merda’. A expressão ‘merda’ já é forte o suficiente e se basta. Da mesma forma, o ator não deve responder ‘obrigado’, e, sim ‘merda’ de volta. Se, mesmo assim, você se sentir deselegante falando isso ou desejando que um ator quebre algum osso importante do corpo, pode falar: ‘Arrase!’, o importante é não deixar de mostrar seu entusiasmo.

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