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Elisabeth: A Evita Austríaca


Um musical no estilo ópera/rock, que fala sobre uma importante figura política feminina, narrado pelo seu inimigo, visualmente impressionante e com um score arrebatador. Não, não estamos falando de “Evita”, mas sim da obra “Elisabeth - Das Musical”, de Sylvester Levay (música) e Michael Kunze (libretto/letras), dupla também conhecida por musicais como “Mozart!” e “Rebecca”.

Elisabeth (chamada no Brasil por “Isabel”) foi imperatriz da Áustria e rainha da Hungria durante o século XIX, devido ao seu casamento com o imperador Franz Joseph I. Ela era conhecida, pela corte e pelo povo, como “Sissi”. Diferentemente da Sissi dos filmes clássicos de Sessão da Tarde, a verdadeira imperatriz foi uma esposa infeliz, depressiva, vaidosa e anoréxica, e essa lado sombrio de sua personalidade, é retratada no musical.

A peça é narrada pelo assassino de Sissi, Luigi Lucheni, que inicialmente aparece enforcado. Ele se encontra no que parece ser o purgatório, e é interrogado por um juíz quanto ao seu ato ter matado a imperatriz. Ele reclama por ter sido condenado a continuamente ter que confessar a história até o fim da eternidade e, confessa só ter feito o que Elisabeth supostamente queria, afirmando que ela era apaixonada pela Morte. O juíz acha a história absurda e pede que Lucheni conte a verdade. Este então convoca, do próprio inferno, os fantasmas das pessoas que fizeram parte da vida de Sissi e os conduz como marionetes, tudo sob os olhos do espectador, para provar que o que ele conta é a verdade.

Após esse momento de metalinguagem, somos apresentados à vida de Sissi desde os seus 12 anos até o seu assassinato, aos 60 anos. Entre os personagens, encontramos a família real, mas também o povo, e claro, a própria Morte, personificada por um homem (“morte” é uma palavra masculina em alemão). Acompanhamos Sissi, seu casamento, o crescimento (ou não) de seus filhos, a delicada e frágil relação com sua sogra, além de sua rígida vida na corte austríaca: Um todo que contribuiu para sua depressão. Ela também era obcecada por sua beleza; enquanto o povo morria de fome, ela se banhava em leite. Porém, o musical Elisabeth fala sobre muito mais que sobre a sofrida vida da imperatriz.

A produção original foi dirigida por Harry Kupfer, renomado diretor de óperas. A direção de uma ópera é muito diferente da de um musical: ela geralmente trabalha com metáforas e alusões ao mundo moderno, além de palcos que sobem, descem, e se movem em todos os sentidos, ao invés de se ater ao literal apenas para compreensão do público, que pode vir a ser superficial. Harry tratou Elisabeth como uma ópera, e a dirigiu com mão de mestre. O espetáculo é repleto de simbolismo, fazendo crítica ao regime monárquico e ao conservadorismo. Em um determinado momento, por exemplo, usa-se a metáfora visual dos próprios nazistas para representar o fascismo e o nacionalismo presentes na época: número este que sempre deixa a plateia desconfortável, quase sempre sem aplausos no seu final.

Embora possa, por sua descrição, parecer cliché, batido e até mesmo um plágio de “Evita”, o musical “Elisabeth” é intenso. Em um mundo como o nosso, é importante entender como de fato funciona a política e onde a maneira que ela envolve o sujeito, o que vemos em Elisabeth. E como dizem as personagens Morte e Rudolf em meio ao segundo ato: “as sombras vão crescendo”. Elisabeth se define então pela sua grandiosidade, pelo seu lirismo romântico, pelo seu lado gótico, mas também pela educação política que se traz, e fica como uma dica altamente recomendável para todos aqueles que buscam teatro musical além do circuito comercial Broadway - West End.

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