Terça-feira, dia 10 de março de 2015: há exatamente 50 anos atrás estreava nos cinemas americanos a versão cinematográfica do musical “The Sound of Music”, aqui no Brasil chamada de “A Noviça Rebelde”. Com Julie Andrews no papel principal, ao lado Christopher Plummer, o filme foi um marco do cinema mundial e as comemorações pelo cinquentenário do filme já começaram: a Academia já prestou uma belíssima homenagem durante a 87a cerimonia de premiação do Oscar: Lady GaGa surpreendeu a todos com um belo medley de canções do filme, incluindo a canção título e Edelweiss, Julie Andrews esteve presente e se emocionou com a performance. A Fox Home, distribuidora da 20th Century Fox prepara-se para o lançamento de uma edição comemorativa de DVD e Blu Ray contendo uma série de especiais e extras, incluindo o documentário The Sound of a City: Julie Andrews returns to Salzburg. Convidamos vocês a explorarem o universo desse clássico que tem encantando gerações.
Então começar do princípio...
Os verdadeiros Georg e Maria Von Trapp e o Livro que originou o filme.
“The Sound of Music” se passa na Áustria pré segunda guerra e conta a história de Maria Rainer, uma desajeitada noviça está perto de realizar seu voto de consagração e se tornar freira e, é enviada para ser a nova cuidadora das crianças da tradicional família Von Trapp. Criadas sobre a rígida de seu pai viúvo, o capitão Von Trapp, as crianças descobrem um novo mundo quando Maria reintroduz a música na vida delas.
O enredo do filme é baseado em fatos reais: A história de Maria Von Trapp foi primeiramente publicada em 1949 no livro “A História da Família de Cantores Von Trapp” (The Story of the Trapp Family Singers) e desde então, produtores hollywoodianos vem tentando comprar os direitos. Primeiramente, foi o produtor alemão Wolfgang Liebeneiner que teve os direitos e produziu dois filmes: com uma estética muito de diferente do que conhecemos hoje e músicas do folclore austríaco na trilha sonora, Die Trapp-Familie (1956) e Die Trapp-Familie in Amerika (1958) fizeram grande sucesso na Alemanha ocidental.
As primeiras adaptações para cinema foram produzidas na Alemanha.
Faz o teu destino, sonha o teu jardim:
Ainda em 1956, a Paramount Pictures conquistou os direitos da reprodução da história e desde então, uma série de ideias foram desenvolvidas, chegando-se até cogitar Audrey Hepburn para o papel principal, no entanto, chegou-se ao consenso de que primeiramente, a história dos Von Trapp seria contada na forma musical que estrearia na Broadway, com Mary Martin como protagonista, na época em grande ascensão pela sua performance como Peter Pan no musical homônimo. Martin ganhou seu terceiro Tony de melhor atriz pela sua performance como Maria.
Os produtores então começaram a recrutar a equipe criativa que contaria com Howard Lindsay e Russel Crouse com roteiro e texto. A dupla Rodgers e Hammerstein , na época em voga pelos composições de sucesso para musicais como Oklahoma!, Carrousel, e The King and I, foi convidada para compor uma música original. No entanto, a dupla alegou que a mistura de composições originais com músicas folclóricas austríacas não seria tão interessante e propôs aos produtores a composição de uma trilha exclusiva, assim nasceu “The Sound of Music ”.
Poster da produção original da Broadway e Mary Martin como Maria Von Trapp.
O musical estreou em novembro de 1959 no Lunt-Fontanne Theatre e fez grande sucesso de público: foram dois anos em cartaz, nos quais Mary Martin deixou apenas de fazer uma única apresentação. A recepção da crítica foi controversa pois, os dois principais críticos da época não aprovaram, no entanto um grande volume de ingressos já tinha sido vendido, o que deu tempo para que houvesse a reconciliação da crítica com o filme. Na edição do Tony naquele ano, o musical conquistou seis prêmios, incluindo Melhor Musical.
São tantas canções para se encantar:
Em 1960, a 20th Century Fox comprou os direitos para adaptação do musical em filme. Iniciou-se então outro longo processo de desenvolvimento e produção: Ernest Lehman ficou encarregado da adaptação do texto e, nesse processo pesquisou a fundo a história de Maria Von Trapp, assistiu o musical mais algumas vezes e até mesmo assistiu as adaptações produzidas anteriormente na Alemanha. Nomes foram cotados para a direção, muitos deles recusando por conflito de agendas ou desinteresse, outros nomes cotados para o elenco, mas, para Lehman, Julie Andrews era a única opção aceitável para viver Maria.
Por fim, Lehman convenceu Robert Wise a assumir a direção e produção do filme e viajou com ele para assistir as gravações de Mary Poppins, para que assim o diretor pudesse conhecer o trabalho de Andrews. No momento da visita, eles acordaram em começar a negociação com Julie Andrews, que após algumas reuniões assinou o contrato, praticamente emendando as gravações de Mary Poppins com The Sound of Music. Até hoje, Andrews tem grande carinho pelo filme e pela personagem que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz e indicação ao Oscar na mesma categoria.
As belas paisagens austríacas que encantaram gerações.
Outros nomes foram escalados: Christopher Plummer tinha carreira focada no teatro, entrou como o Capitão Georg Von Trapp. Testes foram feitos para as crianças do filme e para os papéis adultos secundários. Na adaptação a coreografia da peça foi substituída por uma nova elaborada especialmente para o filme; alguns números musicais foram cortadas e a ordem das músicas foi alterada; os personagens foram melhor desenvolvidos em trabalho coletivo entre Lehman, Wise e os atores. No entanto, um dos grandes destaque do filme fica por conta da fotografia e das cenas que exploram em riqueza de detalhes, cores e imagens as paisagens austríacas: desde a região alpina às pequenas cidades e pradarias.
O filme foi gravado nos EUA, com locações internacionais nos Alpes suíços e na cidade de Salzburg, também na Áustria. A maioria da locações do filme na Áustria ainda estão intactas e abertas a visitantes, atraindo muitos turistas a passeio pela região. De março a agosto de 1964, as gravações foram feitas e depois, de um processo de edição, mixagem e distribuição “The Sound of Music” estreou com uma première especial no Rivoli Theater em Nova Iorque no dia 2 de março de 1965. O filme estreou em cadeia nacional apenas após sua première em Los Angeles no dia 10 de março, e foi um grande sucesso da crítica. Na 37a edição do Oscar, o filme recebeu 10 indicações de prêmios, ganhando um total de 5 estatuetas: Melhor Filme, Melhor Direção (Robert Wise), Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição Fílmica e é claro, Melhor Música.
Elenco reunido na comemoração de 45 anos do filme.
Em termos de bilheteria, o filme foi um sucesso de faturamento: foram arrecadados na primeira semana 286.214.286,00 dólares o que representava muito naquela época. O curioso é que a verdadeira Maria Von Trapp não obteve participação nenhuma de lucros com o filme, isso porque os direitos para a reprodução do história nos EUA foram comprados diretamente com os produtores alemães que haviam produzido os primeiros filmes.
Aliás, Maria Von Trapp também não foi convidada para a noite de estreia do filme, a situação foi um tanto estranha pois Maria faz uma aparição especial no filme durante o canção “I Have Confidence “. Apesar das diferenças históricas adaptação para os palcos e cinema, sobretudo sobre aspectos geográficos e no que diz a respeito as crianças, a verdadeira noviça rebelde ficou bastante satisfeita com o resultado final, embora tenha achado que tanto Mary Martin como Julie Andrews fizeram ela parecer doce demais.
Qual a palavra pra explicar Maria:
The Sound of Music deixou um importante legado na cultura popular, o filme foi classificado pelo American Film Institute(AFI) como um dos 25 musicais mais influentes de todos os tempos e faz parte de uma seleta lista de filmes musicais a receberem um Oscar de melhor filme. A cena em que Maria rodopia e dança pelos alpes se tornou icônica e, a canção “Dó Re Mi”, um clássico que integrou o cancioneiro popular infantil para ensinar as crianças as notas musicais. A cantora americana Gwen Stefani usa trechos da música “The Lonely Goathred” em seu hit “Wind It Up ”. O seriado americano FRIENDS faz referência ao musical no primeiro e último episódio da série; no Brasil, Renato Aragão produziu o filme “O Noviço Rebelde” como um reconto da estória.
A história da família Von Trapp voltou aos palcos da Broadway em 1998 com Rebecca Luker no papel principal: Após uma temporada de quinze meses, o musical seguiu turnê pelos EUA. Na West End londrina, Andrew Lloyd Webber produziu, em parceria com a BBC o [ITÁLICO] reality show “How To Solve a Problem Like Maria” para encontrar a atriz que faria Maria no reality que eles estava produzindo em 2006. Connie Fisher foi a vencedora do programa e teve chance de viver um dos mais célebres papeis do teatro musical. Já em 2013, a emissora american NBC produziu The Sound of Music Live! , uma nova versão do musical filmada especialmente para TV com Carrie Underwood como a noviça Maria. No elenco ainda estavam Audra McDonald e Christian Borle, veteranos da [ITÁLICO] Broadway [/ITÁLICO[ que foram elogiados pela crítica em suas performances com Madre Superiora e tio Max. O sucesso foi tanto que no ano seguinte, foi exibido uma reprise do musical.
Carrie Underwood como Maria Von Trapp no já tradicional musical Ao Vivo Anual da NBC.
Em algum lugar do meu passado, eu fiz um bem que ficou:
Embora The Sound of Music tenha iniciado como uma adaptação para os palcos, esse é mais um dos casos em que a versão para cinema proporciona a estória uma projeção mundial: impulsionado pelo sucesso do filme, ao longo dos anos, foram realizadas diversas produções internacionais do musical, inclusive no Brasil. “A Noviça Rebelde” foi realizada em parceria da Aventura Entretenimento com a respeitada dupla Möeller e Botelho. O musical contou com Kiara Sasso como protagonista e fez duas temporadas, uma no Rio em 2008 (com Herosn Capri como o Capitão Von Trapp) e outra em São Paulo em 2009 (na qual Saulo Vasconcelos assumiu o papel de Capri). Com a direção de Charles Möeller e versões de Cláudio Botelho, o espetáculo se tornou um sucesso de bilheteria e conquistou quatro prêmios Shell de Qualidade. O sucesso foi tamanho que foi lançado um CD com as canções do musical versionadas em português por Claudio Botelho e cantado pelo elenco.
Kiara Sasso e as crianças.
“A Noviça Rebelde” foi um marco profissional para a dupla e possibilitou a realização do primeiro Rodgers & Hammerstein de suas carreiras. Foram cerca de dois meses dedicados à audições e escolha de um elenco para papéis tão icônicos. O musical marcou a reabertura do Teatro Oi Casa Grande (Rio) para os palcos e contou com nomes de peso como Vera do Canto e Mello (no papel da Madre Superiora), Ester Elias, Paula Capovila, Carol Puntel, Cássio Pandolfi e Mirna Rubim. Além disso, foram compostas três famílias de crianças, em cada temporada, que se revezavam nas seis sessões semanais, revelando assim, uma série de novos talentos que compartilharam conosco sobre a experiência de ter sido parte dessa história.
“Foi neste trabalho que entendi o que era ser atriz. Como era bem mais velha que a personagem, tive que aprender a andar, me movimentar, me comportar e cantar como uma menina. Conheci pessoas maravilhosas, talentosíssimas e que me ensinaram muitas coisas. Sem duvidas A Noviça Rebelde ficara marcada para sempre.” Karina Mathias (Louisa)
“Coisas curiosas: Estreei de Rolf sem meu figurino, usei o do Bruno q tem uns 20 cm a menos que eu: Parecia um Jeca! E minha boca tava tão seca que grudava o lábio no dente. O espetáculo me trouxe tanta experiência e amigos, que mantenho ate hoje! Nunca mais trabalhei com muita gente do elenco, mas falamos uns com os outros quase diariamente.“
Felipe Tavolaro (Rolf)
“ Me marcou a confiança que Charles e Claudio depositaram em mim entregando essa missão, o que me deixou imensamente feliz e lisonjeada.. A alegria que tive em contracenar com um elenco tão talentoso e querido, e aprender tanto durante essa temporada. Viver essa magia nos palcos foi um privilégio e uma sensação inigualável que vou guardar para a vida inteira. Além de ter podido reencontrar grandes amigos e ter feito mais várias amizades que duram até hoje. Gratidão eterna. Cidália Castro (Freira, sub de Madre Superiora)
“Eu fico feliz por fazer parte desse musical por ele me fez crescer, como criança, como adolescente, me tornar quem eu sou hoje por conta de sua mensagem muito contagiante: Você estar no palco e poder transmitir essa mensagem é algo que não tem como comparar. A história da “Noviça” é muito bonita, ele traduz na figura do Capitão um mundo perdido e que, através da música é possível encontrar esse caminho” José Vinícius Toro (Kurt)
“Tirando todo minha individualidade que tenho em relação ao 'Noviça', sobra o que eu realmente acho que seja o trunfo do musical. Além de expôr a história magnífica de como os Von Trapp escaparam do nazismo que tomava conta da Áustria, a forma em que a música pode unir pessoas ou a mensagem de que mesmo com um futuro incerto, vale a pena correr atrás do que se ama, o musical fala de um tema muito simples e poderoso: família. A cada dia que passa, me convenço cada vez mais de que sim, família é o bem que mais importa. E esse, pra mim, é o valor que o 'Noviça' passa. Pai, mãe, irmã, cunhado, avôs, avós, primos, tios, tias, amigos e finalmente a Família Noviça, guardo vocês em meu coração, longe ou perto, pois todos vocês fazem parte do que eu chamo de família. Obrigado 'A Noviça Rebelde', todo meu amor e gratidão.” André Torquato (Friedrich)
E para Você que se emocionou com a montagem brasileira de "A Noviça Rebelde", ou até infelizmente não pode assistir nenhuma das temporadas, aí vai um ótima notícia: Cláudio Botelho divulgou em nota no seu perfil oficial no Facebook, que a MB está novamente com os direitos do musical e pretende fazer um revival da Noviça muito em breve, em 2016. Não poderíamos estar mais felizes com essa notícia.
Cada dia mais segura, Cada dia muito mais:
A história de Maria Von Trapp tem cativado gerações desde que foi contada pela primeira vez em livro e o filme, foi o potencializador para que o mundo inteiro a conhecesse. O fato é que, a família de cantores Von Trapp poderia ter subido aos palcos da Broadway com outra abordagem e até mesmo, sobre outro título: a história do jeito que conhecemos hoje só foi possível graças a visão artística brilhante de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, que souberam captar a essência da história e transformar em belas canções. Esse foi o último trabalho da dupla, pois Hammerstein faleceu um mês após a estreia em 1959.
Toda a trajetória pela qual a publicação do livro da história original passou até que se tornasse um sucesso no palcos e nas telas de cinema, nos leva a perceber que não há discussões sobre o valor cultural de The Sound of Music como um todo: o cinquentenário do filme é apenas uma desculpa para refletimos e honrar Rodgers & Hammerstein pela obra magnífica. Nosso desejo é que as próximas gerações conheçam, e também se emocionem com esse clássico que rompe com a barreira do tempo se mantendo atemporal e belo.
O sol já foi, e agora agente vai: So long, adeus!